Here are my hands

[Translated from the Portuguese by Richard Simas.]

In the middle of winter, I discovered an invincible summer inside me.
—Albert Camus

Here are my hands
my own

I don’t know how you came
by which steep road
I don’t know how
your feet’s triumphant act
conquering the most murmuring limestone

Could it possibly have been in the poem’s gentle fierceness

It was for me
you were
a return within death
an island of flame
sown
where only thistle
in the midday desert
because until then
afternoon
unfulfilled
so vast
without promise of water

I say
still there must be an entire canal
of unused sap
a harvest of drained wind
a clean place
to reconstruct the house

My hands continue here
as always
possibly a poem
to work the white sea of grain
and the silent burning of birds


Estão aqui as mãos
as minhas

Não sei como chegaste
por que caminho íngreme
Não sei como 
a triunfante gesta das tuas pernas
vencendo a cal mais rumorosa

Terá sido talvez na doce ferocidade do poema

Foi para mim
foste
um regresso por dentro da morte
uma ilha de lume
semeada
onde só o cardo
no deserto do meio-dia
porque até então
a tarde           
incumprida
vastíssima
sem nenhuma promessa de água

Digo
deve haver ainda um canal íntegro
de inesgotada seiva
uma seara de escorrido vento
um lugar limpo
para reconstruir a casa

As minhas mãos continuam aqui
como sempre 
possibilidade de poema
a lavrar o branco mar do trigo
e o silencioso incêndio dos pássaros


Photo by Luis Dalvan from Pexels

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